Eu não gosto de clichês. Mas é impossíel negar que a sabedoria popular conseguiu retratar em poucas palavras uma situação ímpar. Por isso esta expressão se universalizou.
Minha filha vai estudar Moda em São Paulo. Então achamos interessante que aprenda Corel Draw: para ajudar na confecção do projeto-piloto, essas coisas todas que envolvem desde a criação até a confecção da roupa. E neste sábado acinzentado de 11 de novembro, garoa fina com modos paulistanos, vamos ao SENAC Informática completar a inscrição dela.
E…
Ao entrarmos, um templo de modernidade. Mural lotado de eventos na área de tecnologia, inclusive o SENACTECH: presença de palestrantes da IBM, Google e outros. Catracas eletrônicas para ingresso nas salas de aula, etc. Te mete, hein?
Minha filha dirige-se ao atendimento e completa um formulário com uma quantidade exagerada de informações requisitadas. Entre outras, título de eleitor e religião.
Pode parar!
Na universade, ela preencheu um formulário on-line e no momento da matrícula, gastou apenas dois minutos. E por que eu peço uma nota fiscal, o SENAC exige coisas inusitadas, como o CARIMBO DO CNPJ no formulário de inscrição, etc. Além, é claro, de preencher o o campo CNPJ manualmente. A impressão: realizar a matrícula no curso é mais difícil que telefonar para surdo.
Ela – minha filha – tenta amenizar. Explica que várias pessoas que comparecem a esta instituição conhecem pouco e possuem pouca experiência com internet. São pessoas humildes em busca de uma formação para se colocarem no mercado. Fiquei satisfeito com a idéia.
Quando solicito nota fiscal ou recibo, sabem o que acontece? A atendente pega um talão de notas, em pleno SENAC Informática, e dissipa dez longos e penosos minutos preenchendo-o à mão. Mas katzo, não tem INFORMÁTICA no nome da instituição?
Quando percebo que ela separa a caneta para escrever, um sentimento de frustração se abanca de mim. Aquele mesmo de consultório médico, onde esperamos 60 minutos para ser atendidos, apesar de chegar no horário.
E, entre indignado e aborrecido com o fato, quando voltamos para casa, rememoro inúmeros departamentos de Help Desk e Service Desk que visitei nos últimos nove anos.
Quase todos usando uma ferramenta caseira para registro de incidentes.
Ora, como é que nossa comunidade quer se profissionalizar, exigir mais direitos, compartilhar conteúdo e experiências (vai uma prolepse? Isso será tema de outro post), crescer, etc se permanece numa zona de conforto com algo obsoleto?
Software de registro de incidentes caseiro detém um valor simbólico e emblemático da nossa comunidade de profissionais de Help Desk do Brasil. Demonstra um certo nível de despreocupação ou conformismo com progredir, lutar e avançar, entre outras coisas.
Como pode uma área de TI desenvolver nas horas vagas uma ferramenta que já é oferecida por fabricantes nacionais (nem escrevo sobre os estrangeiros que poriam à baila argumentos como “dólar flutua“, “distribuidor muda de produto e ficamos empenhados“)?
Softwares que falam português nativo, integrados com e-mail, Apache, IIS, disponíveis em vários bancos de dados, pesquisa textual, coleta de inventário com mil-e-uma funções, etc, etc? Um mar de tecnologia e economia de tempos e recursos para os departamentos de TI.
De certo modo, tentamos (SIAL Software) despertar alguma preocupação com profissionalismo ao realizarmos os eventos (já na 14a edição) www.helpdeskday.com.br. Não citamos Fireman durante o dia inteiro. A idéia é lançar uma semente de inquietação nos participantes. Não se trata de apresentar o software, mas de estimular idéias (por isso é um seminário e não treinamento) com as quais o analista se PREOCUPE. É claro que buscando o melhor, lá adiante, ele também pensará no software.
Por isso a visita ao SENAC gerou esta associação livre (salve a psicanálise!) que revelou este (p)ressentimento em mim.
Aliás, abençoado o ITIL que, ainda que carregue (ou seja carregado por) uma indústria voraz, vem conseguindo chacoalhar os pensamentos “naftalianos” e empurrar a classe um passo a frente na sua profissionalização e modernização.
Mas sobre nossa comunidade, um novo post aguarda meu desabafo.
Abraços
El Cohen