Há tempos que não escrevo aqui no blog.
Estou concluindo o livro Base de Conhecimento para Help Desk e Service Desk e nessas horas sou bem minucioso.
Ou medroso, como diz minha esposa. Pois me atenho a cada detalhe pra evitar que o guri nasça logo de uma vez. Vai saber…
Dia desses fui consultado por um empresário sobre como “ajeitar” um excelente técnico que foi promovido a gestor e, infelizmente, até o momento, não rende o esperado.
Arrisco dizer que já escrevi sobre isso aqui no blog. Mas como são mais de 1.300 artigos em 14 anos de produção, nem eu, nem um visitante esperto é capaz de localizar os similares. Pior ainda com esses títulos malucos que invento, haha.
Da empresa
A primeira mensagem é bem simples: não retenha seu excelente técnico promovendo-o a gestor de suporte, supervisor, coordenador ou qualquer cargo que envolva administrar pessoas. E recursos.
É roubada, você sabe.
A tentação é grande, o diabo esbarra você em 300 problemas simultaneamente, tem que resolver logo esse item etc.
Morda a ponta da caneta com força e… Suspire.
Não promova assim. Isso gera mais ansiedade e conflitos dentro do grupo. E atrasa ainda mais o serviço.
Não quero recomendar que não escolha (dupla negação; não e não na frase, qualquer um fica maluco com isso, mas é divertido pra quem escreve) os candidatos a um cargo vago entre as pessoas da equipe. Pelo contrário, até acho bom.
Todos aceitarão – salvo os mais conscientes – a oportunidade de ganhar mais. Não são bobos. Além dos pila adicionais, é uma referência na carteira de trabalho ops, isso nem existe mais no currículo, no perfil do Linkedin.
Isso é chique. Isso valoriza. Eu não acho, mas eles sim. E o que vale é o que pensam. Por enquanto.
Mas quando escolher alguém dentro da equipe para ser um gestor – espero que tenha feito antes um Perfil de Competências para o cargo – , aplique um teste de aptidão nos candidatos para ver se “um mais um resulta em dois”.
Se for o caso, como desculpas para não chamar muito a atenção, invente uma avaliação geral em todo mundo, pra não ficar estampado que está testando “A” ou “B” para a vaga. Sim, vai ter um custo. Bem menor do que escolher a pessoa errada para o cargo, tenha certeza.
E depois, pelo amor de deus, duas coisas:
- Envie o(a) escolhido(a) para meu curso de Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk. Ou dos concorrentes; não são tão bons, mas servem pra alguma coisa também.
- Tenha paciência e oriente bem nos primeiros meses. Porque jogá-lo aos leões é de uma maldade – e burrice – esplêndida.
Maldade porque a pessoa está realizando um processo de transposição. É um “rito de passagem” como dizem na psicologia (pesquise mais sobre isso). É alguém tentando atravessar uma daquelas pontes de madeira – estilo Indiana Jones – e você chacoalhá-la aos montes em dia de temporal (aliás, todos os dias no suporte técnico são dias de tormentas, ventanias e raios, muitos raios).
Burrice porque é um investimento em alguém que cuidará de uma área vital de sua empresa.
Convém lidar com o assunto como fazemos com as crianças recém-nascidas: embale, dê carinho. Quando crescer um pouco mais, segure pela mão para ajudar nos primeiros passos até que consiga correr 100 metros em 20 segundos (em menos de 10 segundos só o Bolt e mais umas raras feras).
“Ah, mas depois ele fica bom e vai embora!” – diz você.
Bom, se não vale a pena permanecer na sua empresa, mais um tópico pra conversar no divã do seu analista ou na hora do café com sua esposa, esposo, namorado, namorada, avô, pai, mãe, papagaio, calopsita, gato (cachorro não porque cachorro é burro, segundo o Garfield) e tal.
Do funcionário
Mais grana. Uma roubada esplêndida; cuidado para não ser seduzido pelo lado negro da força.
Sei que dinheiro sempre é importante (antigamente eu diria “o mais importante”, mas em tempos de corona vírus tá na cara que é “saúde”) e tampouco estou desestimulando você a recusar a oferta.
Mas quando o chefe oferecer a vaga, peça um dia para pensar e converse com sua esposa, esposo, namorado, namorada (a lista toda você sabe, menos cachorro, pois eles são…).
Saiba que os seus colegas não serão mais seus amigos. Pelo menos não do jeito que são hoje.
Já assisti muito gestor chorar (chorar mesmo!) porque a galera passou a hostilizá-lo: aquele lance de agora temos alguém nosso para questionar as decisões lá de cima. Só que não. Nem sempre é fácil assim. E você ganha o apelido de “pau mandado”, justo agora que tem “alguém nosso”. Um traíra. Que não sabe nada.
Mais: você seja mais um supertécnico. Morreu, danou-se. Não foi por isso que lhe promoveram. E se foi, cagada de quem fez. Mas de qualquer maneira, você é gestor agora, vire a chave.
Não é simples assim como escrevo, claro. É foda difícil.
Mas um novo mundo se abre pra você; queria afundar na poltrona pelo resto da vida configurando servidor ou respondendo sempre as mesmas questões sobre o ERP? (até pode se for rico ou sem vontade de ter uma Honda Africa Twin).
Aprenda a ser gestor e estude, principalmente, Peter Drucker. Eis uma frase basilar (de básico! não de lar!):
A causa mais comum do fracasso é a incapacidade ou a indisposição de um funcionário para mudar, de modo a atender aos requisitos de uma nova posição.
O trabalhador intelectual que continua fazendo o que ele fazia com sucesso antes de mudar de cargo está praticamente fadado ao fracasso.
Se o seu chefe for muquirana e lhe promoveu sem dar as devidas capacitações, entenda o seguinte: não é no ITIL ou COBIT que deve buscar amparo para sua nova função.
É comigo, hahaha (sorry, a bola tava quicando). É:
- Nos cursos de administração (talvez também na https://vokyus.com).
- Na estatística para poder tomar decisões baseadas em fatos.
- Nos seus relacionamentos e nas experiências deles.
Open mind. Enterre o supertécnico.
Esqueça-o. Talvez não! Ponha um quadro na parede pra lembras de suas origens.
Mas o foco é outro agora. É uma nova fase da vida. Estamos sempre aprendendo.
Veja eu, estudando Power BI, hehe. E a minha esposa, psicóloga, treinando fazer pão caseiro com calabresa!
Go ahead, my boy. My girl.
Seja feliz e tenha saúde.
Abrazon
EL CO