“O ótimo é inimigo do bom.”
“Busco o Minimum Viable Product (MVP)” ou, em português, Produto Mínimo Viável.
Eu poderia citar outras expressões para as quais vale fazer um serviço “meia boca”, tipo “está funcionando, ainda que capenga, então está bom”.
Debates de correntes
Sempre encontraremos correntes bem-sucedidas de ambos os lados:
- Aqueles que consideram que não vale a pena se esfalfar (Houaiss: extenuar(-se) devido a trabalho, esforço excessivo) se algo está razoavelmente bom.
- Outros afirmando que você deve buscar a perfeição no seu trabalho, ser paranoico (ponho nessa lista Peter Drucker e Andy Grove, fundador da Intel).
Veja, eu disse “bem-sucedidas“: encontrará argumentos adequados em ambas as tendências. É algo como a atual polarização política existente no Brasil e no mundo.
Você pode ficar em indeciso até… Pisar em um dos lados da risca.
Se fizer isso, pronto, se transforma em um ardoroso defensor do lado e entusiasmado e impetuoso inimigo do outro. Tipo torcida do Palmeiras vs. a do Corinthians se encontrando no metrô.
De que lado estou?
Sempre estive do primeiro lado, “o bom é inimigo do ótimo”.
Recursos são gastos na busca do ótimo. E poderiam ser investidos em outras partes da empresa, da sua vida pessoal, do centro de suporte técnico. Não fariam tanta diferença no projeto original, mas fazem nos outros.
Exemplo: ao escrever meu primeiro livro gastei 10 anos. Queria o melhor possível. O perfeito. Até decidir que estava bom. Aceitei que era humano, sujeito a erros e poderia corrigi-los em versões futuras.
Os livros subsequentes adotei uma nova estratégia: “Assim já está bom, posso ajudar muita gente com esse conteúdo”. E ajudei mesmo!
Porém…
Um libanês chamado Nassim Taleb escreveu um livro chamado A lógica do cisne negro, o impacto do altamente improvável.
Resumo: fatos inesperados e “impossíveis” acontecem.
- Ninguém acreditava que existiam cisnes negros. Até que encontraram alguns.
- Ninguém acreditava que um tsunami atingiria uma usina atômica. Até que atingiu.
- Ninguém acreditava numa pandemia mundial. Até que ela veio.
- Ninguém acreditava numa guerra que impactaria o mundo logo em saída à pandemia. E ela explodiu.
Ninguém acreditava que quadras e quadras de Porto Alegre seriam inundadas por mais de 20 dias. E…
Aliás, não só nesta cidade, em todo o estado do Rio Grande do Sul.
Uma região na cidade chamada de Quarto Distrito, bem localizada e repleta de galpões de antigas fábricas, foi ocupada por datacenters. Pergunte o que aconteceu com eles?
Aposta do 4º Distrito, data centers foram inundados”
Mais:
- Aeroporto de Porto Alegre onde aterrissam os aviões da Amazon e Mercado Livre só volta a funcionar daqui a 6 meses!
- 20% do comércio de Porto Alegre foi alagado. Pense em geladeiras, produtos de computação, vacinas e remédios, gêneros alimentícios, petshops. A lista é grande.
- Para acessar a cidade vizinha a 10 km, são 60 minutos de carro. E o trem até ela ainda não funciona, tampouco os ônibus.
- A rodoviária de Porto Alegre encontra-se em limpeza. Remove-se um lodo digno de um pântano de algum filme de terror do leste europeu. Fora o cheiro de carniça.
Por isso…
Hoje, depois do que aconteceu em Porto Alegre (e no estado do Rio Grande do Sul), deixo a você um trecho do livro de Peter Drucker chamado O Melhor de Peter Drucker, Parte 3 – Administre a si mesmo, seção Sete experiências de Peter Drucker:
Foi nesse mesmo período, e também em Hamburgo, enquanto eu era trainee, li uma história sobre o maior escultor da Grécia Antiga, Fídias. Ele foi incumbido, por volta de 440 a.C., a fazer as estátuas que até hoje, 2.400 anos mais tarde, ainda estão no teto do Parthenon, em Atenas, e são consideradas as maiores esculturadas da tradição ocidental.
As estátuas foram admiradas universalmente, mas quando Fídias apresentou sua conta, o Contador da Cidade Atenas se recusou a pagá-la: “Essas estátuas estão no teto do templo, e no monte mais alto de Atenas. Ninguém pode ver nada, exceto a parte frontal delas. No entanto, você está nos cobrando pela escultura toda, ou seja, por esculpir a parte de trás, que ninguém pode ver.”
“Engano seu”, Fídias retorquiu “os Deuses podem vê-las”.
Lembro-me de ter lido isso e fiquei muito impressionado. Nem sempre segui as palavras de Fídias. Fiz muitas coisas que espero que os deuses não tenham notado, mas sempre soube que se deve lutar pela perfeição, mesmo que só “os deuses” sejam capazes de notá-la.
Jamais alguém pensou em uma inundação novamente na cidade de Porto Alegre. Todas as medidas de segurança foram afrouxadas…
É isso. Pense a respeito.
Enquanto eu sigo como um “abobado da enchente”.
El CO
PS: Explicação para “abobado da enchente”:
O historiador Sérgio da Costa Franco conta que a expressão “abobado da enchente” surgiu após a tragédia de 1941. Referia-se a pessoas que perderam tudo na enchente e andavam estupefatas pela cidade, de tal maneira que pareciam sofrer de deficiência mental. Essa expressão cruel, depois estendeu-se a quem cometia uma tolice.