Tenho caminhado diariamente em lodo. Fedorento.
Moro em Porto Alegre, a bomba d’água que busca 1.000 litros/s para a estação de tratamento do meu bairro ficou submersa com a enchente. Resultado?
Quase 20 dias sem água corrente em casa. Descarregando baldes na privada para mandar número 1 e 2 embora. Peregrinando por filhas e tias em busca de um banho quente. Visitando estacionamentos alheios na madrugada em busca de uma torneira com água.
Mas nada, nada disso se compara com a situação de 650 mil desabrigados. Suas casas tiveram água até o teto. Ou além. Parte estão morando em casa de parentes e amigos, outra compartilhando espaços em ginásios espalhados pelo estado do Rio Grande do Sul.
Inúmeras situações acontecem nesse ginásios após um tempo:
- gangues se formam e intimam pessoas em situação de vulnerabilidade;
- acontecem estupros de todos os tipos; a comida se torna ruim;
- passa a existir contaminação de gripe, covid etc.;
- o carinho diminui, assim como a quantidade de voluntários e assim por diante.
Eles vivem em situação bem pior que a minha, dada a relatividade.
Tudo parece um roteiro de Walking Dead. Quadrilhas roubando tratores de concessionárias. Povo, logo no início, disputando e esgotando mantimentos e água nos supermercados. Filas homéricas de veículos em engarrafamentos rumo ao litoral.
Só escrevendo consigo colocar pra fora esse entorpecimento, esse desânimo, essa depressão, essa inquietação esmagada.
Ontem à noite fui a um churrasco de amigos juntar cacos. Todos sentiam-se constrangidos. Culpa pelo fato de estarmos juntos e ter alguma alegria que extravasava nosso conflito.
Quando leio fake news, ditados populares transformados em frases de motivação no Linkedin, trilhões de pedidos de PIX no Instagram, acalorados debates de responsáveis e culpados pela inundação…
Dá um desânimo, uma pasmaceira.
HDI ES em Julho
Cancelei, com muita vergonha, minha presença no HDI ES.
Queria rever e abraçar amigos com alegria. Mas como ter alegria diante desse mais de meio milhão de gente que perdeu sua história?
Vai aqui um pedido de desculpas públicas, Jackson Galvani, fabuloso superman organizador do evento.
Sei que já passou por isso e compreende o sentimento.
Ao título, Cohen, ao título!
OK, ao nosso tópico de hoje.
Acompanho blogs de suporte técnico e TI e sigo influenciadores da área que compartilham sabedoria em imagens do Instagram, microvídeos do TikTok etc.
E percebo gente oferecendo dicas de gestão, tentando fazer o bem.
Só que o efeito é negativo.
Porquê?
Por que não existe um “jeito certo” de se dar bem.
Creio que foi Cortella (ou Clóvis Barros, a memória não é meu forte) que registrou seu testemunho em um retiro. A primeira programação envolvia uma trilha saudável no meio do mato. E ele questionou: isso é o que eu considero agradável? Para uns pode ser, para mim não.
O que tento expressar, copiando palavras de Henry Mintzberg é que não existe “a melhor maneira” de gerenciar; tudo depende da situação.
Foi ele que disse:
- “Hoje sofremos de excesso de liderança e falta de gestão.”
- “Ao colocarmos a liderança em um pedestal, separado da gestão, transformamos um processo social em um pessoal. Não importa o quanto falemos sobre o líder fortalecer o grupo, a liderança ainda enfoca o indivíduo, sempre que promovemos a liderança, rebaixamos os outros ao nível de seguidores.”
Segundo ele, a gestão é uma prática. Ou seja, o sujeito vai experimentando. Aprendendo. E errando.
“O gerente precisa ajudar a realizar o potencial de outras pessoas para que elas possam ter conhecimento melhor, tomar decisões melhores e agir melhor.” — diz no livro Managing, desvendando o dia a dia da gestão.
Por isso, pelo amor de deus, faça uma reflexão antes de aplicar um ensinamento apresentado por obras ou pela IA (sim, sim, tem isso agora).
Bah
OK, não estou muito empolgado hoje, apenas seguindo o script.
Sexta-feira quero retornar avidamente à tradição do “Cestou”.
Limparei o carburador e voltarei à alegria. Ainda que outros estejam very, very bad.
Abraços
Roberto