Muita gente gosta de acordar cedo para trabalhar, independentemente do que seja “trabalhar” – cada um tem seu conceito.
Despertar cedo é frequentemente visto como um mérito, mas para alguns, isso pode prejudicar o desempenho, provado cientificamente.
O que nossos gestores de suporte técnico devem entender: nem todo mundo rende o mesmo às 8 da manhã, habitual início do expediente de trabalho.
E sim, trata-se da mais pura preguiça.
Amplamente justificada pelo cansaço ao não completar a sua jornada de sono.
Manhãs de domingo
Domingo em casa é dedicado à leitura intensa. Acordo cedo, não caminho meus 5 km (nem 200), faço o chimarrão e me acomodo na poltrona Berger, lendo da madrugada até o almoço.
Esse hábito me é benéfico. Ajuda a evitar Alzheimer, melhora a memória etc. E impossibilita ser convidado a lavar louça, desentupir cano de pia, ir ao supermercado e tudo o mais.
Neste domingo lia Por que dormimos do neurocientista e psicólogo Matthew Walker.
Ele mostra a importância do sono para a saúde física e mental, enfatizando que a privação desse pode levar a problemas de saúde.
Tudo com uma visão de cientista que explica os processos neurológicos por trás desse ato banal (dormir).
Livro Por que dormimos
O autor destaca que o sono é essencial para a saúde e como ele influencia o humor, a memória, a reparação celular e a harmonia metabólica. A falta prejudica a cognição, a saúde cardiovascular, o sistema imunológico e o equilíbrio hormonal.
Ou seja, dormir o suficiente é fundamental.
Matthew apresenta dois fatores que correm em paralelo para o ato de dormir:
- O ritmo circadiano.
- O acúmulo da substância química adenosina (parece nome de remédio genérico).
O ritmo circadiano é um ciclo biológico natural de aproximadamente 24 horas que regula processos como o ciclo sono-vigília, a liberação de hormônios, a temperatura corporal e o metabolismo. É influenciado principalmente pela luz e pela escuridão do ambiente.
Existe uma variação nos ritmos circadianos entre os indivíduos, o que pode resultar em diferentes cronotipos — preferências de uma pessoa para atividades em certos momentos do dia.
Captou a malvadeza? Provavelmente nem todos temos o mesmo cronotipo!
Cronotipo
O sono varia com a idade e de pessoa para pessoa, sendo uma intervenção da Mãe Natureza para nossa sobrevivência. No passado, a diferença de cronotipos (uns dormindo às 22:00, outros às 02:00) aumentava a vigília contra predadores. A Mãe Natureza também usava o período das 02:00 às 06:00 para um certo controle populacional, hehe.
No livro há a explicação de outro fator paralelo para o sono, a adenosina que já citei.
Ela se acumula no cérebro e produz a sensação de cansaço. Lá pelas tantas o cérebro informa a todo o corpo: “Encheu o tanque, hora de dormir; vamos esvaziar esse volume!”.
Aqueles que ingerem muita cafeína — presente no café — conseguem foder com bloquear essa mensagem do cérebro. O que aumenta o armazenamento de adenosina cada vez mais até o momento em que a coisa explode e a pessoa “capota”.
No século 19, a elite francesa incentivava o consumo de café entre os trabalhadores, pois aumentava a produtividade e reduzia a fadiga nas fábricas. Claro, gerava alguns problemas de saúde como efeito rebote.
E você comprando café importado da Etiópia e Colômbia, hein? Leia o parágrafo anterior, o livro do Matthew e tire suas conclusões. Eu tomei decisão radical: parei de tomar café desde depois das 23:00.
Lembrete
Quando, Daniel Pink
Este livro me fez lembrar do livro Quando de Daniel Pink, que aborda a importância do timing na tomada de decisões, realização de tarefas criativas e descanso. Pink classifica as pessoas em “corujas”, que são mais produtivas à noite e “cotovias” (eu preferia “pardais”, essa praga que enchem o saco nas minhas madrugadas), que rendem mais pela manhã.
Resumindo: é importante obedecer ao próprio ritmo circadiano para obter melhor produtividade.
Acordar quando devería estar dormindo, faz com que todos aqueles processos positivos sejam interrompidos. O despejo de substâncias tóxicas não aconteça por completo e vixe, o bicho pega.
Boa aula de neurobiologia, Cohen. E daí?
Calma lá, não empurra que isso não é fila de metrô em horário de pico.
Aliás, nem tem fila, é um estouro de boiada mesmo, tanto de dentro pra fora (com medo de não conseguir sair), quanto de fora para dentro (com medo de não conseguir embarcar).
Caso da preguiça
O cansaço é uma sensação física e mental de esgotamento que geralmente resulta de esforço, falta de sono ou estresse. Ou tudo mexido na panela cerebral.
Já a preguiça é uma falta de vontade para realizar atividades. Pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo o cansaço.
Quando uma pessoa está cansada — por que não dormiu o suficiente, por exemplo —, ela se sente menos motivada a realizar tarefas. Seu chefe, numa simplificação generalista, poderia chamar de “preguiça”.
Se bem que ela também pode ocorrer independentemente do cansaço: falta de motivação, desinteresse ou procrastinação.
Horário de trabalho em Call Centers
OK, uso a expressão Call Center de propósito. É o ambiente clássico de todo mundo numa sala de atendimento. Em outros, o suporte pode ser realizado home office. Ou iniciar às 10:00. Ou ser oferecido por um bot/IA (que talvez conduza a um atendimento humano, então resvala no mesmo problema).
Dá uma solução, pombas, Cohen!
Minha sugestão principal é oferecer flexibilidade de turno. Implementar horários de trabalho compatíveis com os ritmos circadianos dos funcionários ou, expressando de forma diferente, oferecer opções de turnos flexíveis.
Permitir que “corujas” trabalhem em turnos mais tardios, enquanto “cotovias” iniciem mais cedo.
Os supermercados e fábricas oferecem turnos variados por diversos motivos, como maior cobertura de horário e cumprimento da legislação. Essa flexibilidade permite aos trabalhadores escolherem o horário mais produtivo, exceto em casos de segundo ou terceiro emprego.
Dependendo do time que você coordena (quem é pobre se abraça no que tem pela frente; quem tem grana enfrenta problemas de sono por outros fatores), promover a saúde do sono.
Yeah, pode parecer piegas, mas se quer alguém produzindo ao máximo, precisará ir além das melhores práticas e pensamentos arcaicos arraigados. Pense mais no ser humano. Ofereça programas de educação sobre higiene do sono.
Mas antes leia o livro. Por que fazer as coisas sem acreditar, produzirá baixo engajamento. A começar pelo líder.
Criar áreas de descanso. O sujeito pode tirar uma soneca ali e, ao menos, despejar um pouco da adenosina acumulada. Sem videogame, claro! Não é sala de jogos, é dormitório moderno, mesmo.
Sudae, sobrinhos e sobrinhas
Beijão e feliz novo ano agora que o Carnaval se encerrou (acho).
Abrazon
EL CO