Não, não é o emprego, meu guru!

Em setembro meu guru Ricardo Mansur escreveu um texto provocativo intitulado É o emprego, estúpido!.

Coisa rara adotar expressões tão fortes como o substantivo masculino em questão.

Comprometi-me a apresentar meu contra-arrazoado naquele mesmo mês, mas meus múltiplos projetos (não posso me aposentar antes dos 140 anos!!) sorveram meu tempo disponí­vel.

Dezembro

Agora estamos no último mês do ano, época em que tudo caminha a passo de cágado, exceto meu cérebro.

Ele, em verdade, comporta-se como uma geleia em decomposição neste calor de 40 graus do verão porto-alegrense. Odeio o calor, salvo pelo efeito maravilhoso e estonteante sobre a moda feminina.

E ele, meu cérebro, resolveu responder (até por que o guru há algum tempo me cobra insistentemente).

Vamos a um resumo do artigo do mestre (onde arrisco a interpretar mal):

Frente a diversas argumentações que era preciso flexibilizar as leis trabalhistas para aumentar a oferta de empregos, o guru apontou que o problema era outro: a crise econômica em si estaria influenciando esta diminuição. Não as obrigações tí­picas de nossa CLT.

E apresentou hiperlinks e mais hiperlinks para corroborar suas ideias (naturalmente só apontou aqueles que fortalecem sua opinião, numa óbvia demonstração do viés de confirmação).

Bem, não sei se ele quis negar que o motivo da crise econômica fosse todos os penduricalhos que envolvem o emprego (e que empurram muita gente para a pejotização).

Hummmm

Bem, sinto muito dizer que o emprego como o conhecemos está com os dias contados, independente de CLT, flexibilização e tantas outras leis e debates.

Junto sumirão estes inecessários acessórios:

  • Décimo-terceiro salário, de onde apareceu esta obrigação? Descobri. Alguns empresários davam uma gratificação adicional no final do ano aos funcionários de bom desempenho e… Como todo bom estado paternalista, criamos uma lei estendendo este benefí­cio a todo mundo, independente do “bom desempenho”.
  • Auxí­lio-funeral?
  • Salário-famí­lia (infame, das distorções tupiniquins que tanto nos envergonhamos).

O “Emprego”, assim como o conhecemos, surgiu nos idos da Revolução Industrial devido a uma massa de camponeses migrando para as cidades em busca de melhores oportunidades e melhor qualidade de vida.

Se tais expectativas da população rural se tornaram realidade, não sei bem dizer.

Daí­ que uma gigantesca legislação brotou influenciada por sindicatos (em busca de poder), polí­ticos (em busca de votos) e empresários (em busca do estabelecimento de claras relações entre as partes, mas nem tão empenhados assim).

Tudo para evitar o sucedido em Roma quando trabalhadores foram para um morro e se recusaram a voltar.

Transcrevo o genial Indro Montanelli no seu História de Roma:

As “ordens” e o Senado fizeram ouvidos de mercador a estes pedidos.

E então a plebe, ou, pelo menos, grandes massas de plebeus, cruzaram os braços, retiraram-se para o Monte Sacro, a cinco quilômetros da cidade, e disseram que a partir daquele momento não dariam nem um trabalhador à terra, nem um operário às indústrias, nem um soldado ao exército.

O Senado, com a faca na garganta, mandou embaixadas, uma após outra, aos plebeus, para convencê-los a regressar à cidade…

Mas a Revolução Industrial é de 1800

Ainda que hoje em dia sejam oferecidos carros com manivelas para abrir e fechar os vidros (uma trama ardilosa para faturar um pouco mais), vivemos no século XXI.

E a McKinsey em seu relatório Rethinking work in the digital age de 2016 (!!) antecipou (ou apenas registrou) a quebra de algumas ortodoxias que os velhos resistem em aceitar.

E a principal delas não tange sobre terceirização, geração de empregos ou coisas parecidas e sim sobre a natureza da atividade profissional.

3. De empregos assalariados para trabalho independente. A economia digital não está apenas mudando o trabalho dentro das organizações, mas também permitindo que ela se destaque além delas. Nossa pesquisa mais recente indica que cerca de 25% das pessoas que possuem empregos tradicionais preferem ser trabalhadores independentes, com maior autonomia e controle sobre suas horas. A economia digital faz com que a mudança para o trabalho autônomo baseado em habilidades ou mesmo para o emprego hí­brido (combinando trabalho tradicional e independente) seja muito mais fácil. (…)

No varejo, os sites oferecem novos caminhos para a atividade empresarial. (…) Em termos macro, o (especialmente uma escolha entre empregos a tempo inteiro ou a tempo parcial) será desafiado a que os trabalhadores optem – ou, em face de perspectivas de emprego desafiadoras, recorrer a uma maior autodeterminação no emprego.

Do emprego sumindo sem relação com a crise econômica

No paí­s, esgotam-se oportunidades de emprego para quem tem mais de cinquenta anos.

Especialistas indicam como exemplo a ser seguido os paí­ses do primeiro mundo, onde pessoas mais velhas retornam às atividades profissionais por que as empresas desejam suas experiências. Ou… Por que não encontram mais jovens disponí­veis no mercado de trabalho (salvo imigrantes).

Uma caracterí­stica ordinariamente demográfica.

Além disso, um segundo ponto a menos para o “emprego”: o mundo plano (Thomas Friedman) bagunçou o coreto. Contrato alguém de além-mar (ou vice-versa) para fazer uma tarefa. Apesar de não ser tudo isso que ele previu, é fato. E não é emprego (tipo CLT, pelo menos).

No momento, um argumento (pseudo) favorável ao emprego: nunca se pagou tão pouco o seguro desemprego como nos EUA na “Era Trump”. É verdade, mas eles, norte-americanos, também nunca pagaram tão caro certos produtos que eram produzidos de forma barata na Ásia. Uma subversão a princí­pios econômicos básicos.

Mas populismo tem disso, veja o Maduro dizendo agora que aumentou a lista de inimigos da Venezuela; até nós entramos no rol.

E agora, do paí­s que mais protegeu seus cidadãos com aspectos sociais e econômicos, vêm notí­cias perturbadoras. Os “coletes amarelos” estão em polvorosa por que alguns benefí­cios estão sendo cortados. Mas se não forem, acaba o paí­s. Daí­ que é um impasse dos diachos.

Do futuro logo ali a duas quadras de distância

 

Não vejo emprego no futuro. Prevejo atividades profissionais. 

Meu guru indica que as atividades simplórias serão substituí­das por IA, automação e robôs.

Restarão as qualificadas.

Quererá (ulá!!!) o povo qualificado ser empregado fixo, consciente de suas competências, podendo oferecer seus serviços a várias empresas, seja através de uma mensalidade periódica, seja através de projetos?

Esclareço: meu viés é de quem viveu quase a vida inteira como um pequeno empresário. Talvez Mansur tenha sido empregado a vida inteira.

Por isso cada um vê a realidade com os óculos que sua experiência lhe entrega.

Sei lá… Veremos.

Fevereiro!!!

Anyway, nos vemos em fevereiro, guru.

Espero-o no curso de Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk em Sampa.

Abrazon

EL CO

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