Gestores de suporte técnico não gostam de números.
É curioso. Somos todos da área das Ciências Exatas, termo que habitualmente remete à Matemática (mas Ciências Exatas englobam também a Física, Química, etc.).
Supõe-se números, mas eles não exercem grande fascínio sobre nós.
Nosso entusiasmo e paixão são arrebatados pela Lógica.
“Se eu fiz isso e aquilo e funcionou, então posso repetir nas próximas vezes esta ação” são conclusões e inferências que nos apaixonam. Além, é claro, da vontade de resolve problemas.
Através da coerência, do raciocínio e não de “acender uma vela” (se bem que isso volta e meia ajuda em situações de desespero).
Mas os números…
Bem, é comum nos atirarmos na primeira conclusão plausível que apareça.
Uma resolução que evita o mergulho em questões estatísticas como correlação, desvio-padrão, quantis, curtose, mediana, distribuição normal.
(haha, fudeu danou-se, hein? só conhece a tradicional média aritmética…).
Claro, aqueles que fizeram meu EAD de Métricas para Help Desk e Service Desk estão na contramão dessa corrente, mas…
Não correspondem ao grosso contingente de gestores.
O que é correlação
Quero falar de tema relativamente simples na Estatística:
Correlação
Vou trazer uma explicação do Charles Wheelan do livro Estatística o que é, para que serve e como funciona.
Recomendo a leitura.
Bem didático e surpresa: a leitura é atraente (dado que a matéria geralmente nos evoca uma repulsa e antipatia, hahaha).
A NETFLIX INSISTE QUE vou gostar do filme Bhutto, um documentário que oferece uma “visão em profundidade e às vezes incendiária da vida e da trágica morte da ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto”. Provavelmente vou gostar do filme. (Eu o adicionei à “Minha lista”.) As recomendações da Netflix às quais assisti no passado foram incríveis. E quando eles recomendam um filme a que já assisti, costuma ser um de que eu realmente gostei.
Como a Netflix faz isso? Será que existe alguma gigantesca equipe de estagiários na sede da corporação que usou uma combinação do Google e entrevistas com a minha família e amigos para determinar que eu poderia gostar de um documentário sobre uma ex-primeira-ministra paquistanesa?
É claro que não.
A Netflix simplesmente domina algumas estatísticas sofisticadas. A Netflix não me conhece.
Mas conhece os filmes dos quais gostei no passado (porque eu os avaliei). Usando essa informação, junto com as avaliações de outros clientes e um computador potente, a Netflix pode fazer previsões incrivelmente acuradas sobre as minhas preferências.
(…)
A CORRELAÇÃO mede o grau em que dois fenômenos estão relacionados entre si.
Por exemplo, existe uma correlação entre temperaturas de verão e venda de sorvete. Quando uma sobe, a outra sobe também.
Duas variáveis têm correlação positiva se uma variação numa delas é associada a uma variação da outra no mesmo sentido, tal como a relação entre altura e peso. Pessoas mais altas pesam mais (em média); pessoas mais baixas pesam menos.
Uma correlação é negativa se uma variação positiva numa das variáveis está associada a uma variação negativa na outra, tal como a relação entre exercício e peso.
Onde mora o perigo?
A merda problemática toda é que – o tempo urge, o tempo é escasso – olhamos alguns gráficos ou relatórios e tiramos conclusões precipitadas.
E estas levarão a ações – o importante é agir, fazer acontecer – e quando vemos, lá estamos nós realizando algo que, no futuro, perceberemos que foi uma mancada.
Pior que constatar a decisão tomada de forma errônea, é verificar o desperdício de recursos humanos e financeiros que consumimos em função dela.
Ah, como diria um ex-advogado meu, pode ficar pior…
Psicologicamente nos recusamos a abandonar o projeto.
Afinal, já investimos muito nele.
Como explicar ao meu chefe que tomei uma decisão errada por que domino pouco de Estatística?
Entra em cena, tã-tã, o “Custo Irrecuperável” (Sunk Cost).
Foda-se Azar…
Agora já investi um monte, vai ter que dar certo.
(versão pessoal: cai um temporal de arruinar cidades, mas por que paguei R$ 500 por um ingresso no show do Black Sabbath, irei de qualquer jeito, arriscando ao meu carro ficar inundado, pegar uma megagripe e outras doenças, etc…
Tudo seria diferente se tivesse ganho o ingresso num concurso de rádio e nada tivesse pago por ele.)
Então por que correlação não é causalidade?
Antes de tudo: não confunda causalidade com casualidade.
Causalidade: condição ou qualidade do que é causal, do que produz efeito
Casualidade: característica daquilo que é casual; eventualidade, acaso, acidente
Vamos recorrer novamente ao Charles:
UM PONTO CRUCIAL nesta discussão geral é que correlação não implica causalidade; uma associação positiva ou negativa entre duas variáveis não significa necessariamente que uma variação numa delas esteja causando a variação na outra.
Por exemplo, anteriormente aludi a uma provável correlação positiva entre os resultados do SAT (versão americana do ENEM) de um aluno e a quantidade de televisores que sua família possui.
Isso não significa que pais superansiosos possam aumentar o placar dos testes de seus filhos comprando cinco aparelhos de televisão adicionais para a casa. E provavelmente tampouco significa que assistir muito à televisão seja bom para o desempenho acadêmico.
A explicação mais lógica para tal correlação seria que pais com elevado nível de educação podem se dar ao luxo de ter uma porção de aparelhos de televisão e tendem a ter filhos cujos resultados nos testes estão acima da média. Tanto televisores como resultados de testes são provavelmente causados por uma terceira variável, que é a educação dos pais.
Não posso provar a correlação entre esses aparelhos na casa e resultados do SAT. (O College Board não fornece esses dados.)
No entanto, posso provar que alunos de famílias mais ricas têm em média escores no SAT mais altos do que alunos de famílias menos ricas.
Segundo o College Board, alunos com renda familiar acima de US$200 mil têm um placar médio no SAT de matemática de 586, em comparação com um placar médio de 460 para alunos com renda familiar de US$20 mil ou menos.
Ao mesmo tempo, também é provável que famílias com renda superior a US$200 mil tenham mais televisores em suas (múltiplas) casas do que famílias com renda de US$20 mil ou menos.
E no centro de suporte técnico
Um colega afirmou que depois de alimentarem muitos documentos na base de conhecimento, a quantidade de chamados caiu consideravelmente.
Uma correlação negativa (negativa não tem nada a ver com pejorativo, se ligue!).
- Será que uma “base de conhecimento bem populosa” é o motivo da diminuição na quantidade dos chamados?
- E se o setor de desenvolvimento aumentou o rigor na liberação de novas versões reduzindo os bugs?
- E se a área de treinamento fez um trabalho magnífico e com isso menos usuários têm dúvidas?
- E se o departamento de implantação tomou vergonha na cara e agora faz implantações de sistemas sanando todas as perguntas dos usuários e diminuindo a quantidade de gambiarras que normalmente estourariam no suporte técnico?
- E se o recente projeto de Gamification da empresa tem feito os usuários procurarem entre si as soluções.
- E se…
Outra:
As notas na Pesquisa de Satisfação aumentaram consideravelmente após autorizarmos nossos técnicos a ficarem o tempo que for preciso ao telefone, desde que deem um “atendimento de excelência” aos clientes. Como consequência o tempo de atendimento aumentou, mas as notas também. Ao contrário do anterior, esta é uma correlação positiva.
- Mas será que o aumento na satisfação é resultado de um tempo maior de atendimento?
- E se aqueles clientes insatisfeitos ao esperarem demais para ser atendidos (claro, se os técnicos antes ficavam 5min e agora ficam 45min ao telefone, é natural supor uma fila de espera por atendimento), abandonaram a ligação e nem preenchem mais pesquisas? E não preenchendo a pesquisa, a amostra é reduzida e somente os felizes é que a respondem?
- E se…
Correlação não é causalidade
Vocês entenderam – espero – que correlação não significa causalidade, né?
Assim, antes de se precipitarem a realizar ações, investiguem um pouco mais.
Oh, yeah.
A Estatística é uma excelente parceira para análise e controle da situação no centro de suporte (e Big Data, algoritmos, etc. são exemplos de uso dos números), mas…
Não se atire.
Ops
Aliás, onde pode se atirar certo é no último curso do ano de Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk que ministrarei dias 24-25-26 de outubro em São Paulo.
Por quê?
- Depois, só em 2019, sister. And brother.
- Inscrevendo-se até 01 de outubro ganha todos os meus quatro livros físicos. Depois, nhecas.
- E só tem 3 vagas restantes.
- Teremos presença de psicóloga apresentando dicas para seleção de funcionários.
See you?
Baaaaaaaaaaaaaaita abraço
EL CO