À cata de um gerente de ti partido ao meio

Yep, se você manja de literatura, sabe do que se trata.

Estou a fazer (veja o uso português-angolano da expressão: se fosse usar o brasileiro, teria adotado o gerúndio estou fazendo) uma analogia com a obra “O visconde partido ao meio” do escritor Italo Calvino.

O elemento da história é manjado. O Estranho Caso do Doutor Jekyll e do Senhor Hyde é outra árvore da mesma semente. O Duas Caras do Batman. Gulliver visitando gigantes e depois anões. O filme Crash – No Limite também faz isso.

E tantas narrativas parecidas que trabalham com o dual na mesma entidade.

Aliás, pobrezinho do gerúndio que de tanto uso, foi defenestrado pelos professores de atendimento em call center, mas nem eles se libertam do jugo do mesmo.

Mas há gente que abusa: “Estou encaminhando seu pedido e estou monitorando o mesmo…” e o nobre gerúndio – indica uma ação que se iniciou e ainda não foi concluí­da — está tão puí­do e gasto feito assento de metrô.

OK, voltemos ao tema original.

Aliás, não mude para outra janela!

É melhor concluir logo a leitura desse texto, uma vez que iniciou, do que borboletear pra lá e pra cá. Se leu meu artigo anterior que tratava sobre foco, sentirá uma pontadinha de culpa, hahaha.

Não sei se foi o Gartner Group ou a IBM (ou qualquer outro instituto de pesquisa lançador de modas e modismos) que declarou:

A TI tornou-se bimodal.

TI Bimodal?

O que significa?

Todo mundo foi comprar os documentos publicados que explicavam e ensinavam como lidar com isso.

Ela deve cuidar da manutenção dos processos existentes, zelar pela estabilidade e confiabilidade e também, por outro lado, de forma simultânea e curiosamente antagônica, ser arrojada e agregar ao negócio inovações disruptivas (o adjetivo não existe, mas se xerocar virou um verbo, por que não virá “disruptiva” ser agregado (masculino, é um adjetivo) ao vocabulário português? Porém, o substantivo disrupção existe!).

Manchete de 2016: Gartner estima que 75% das empresas terão uma abordagem bimodal até 2017

Daí­ que o homem que comanda a TI do banco, por exemplo, precisa manter os processos atuais funcionando para que os clientes possam saber seus saldos. Os variados sistemas (muitos herdados da década de 1980 e funcionando em linguagens populares daqueles tempos, como a Cobol) devem continuar o processamento dos dados; o sistema de cobrança ver quem pagou ou não e anotar no banco de dados e toda essa mesmice do cotidiano que os ERPs tão bem dizem que fazem.

Na outra ponta (pqp, bota ponta longe nisso), os gestores de TI, membros atuantes dos boards das empresas (e hoje com tí­tulos elegantes como CIO e outras invenções que nos chegam geralmente dos EUA), precisam olhar 20 anos à frente e compreender como será o mercado e o mundo.

No Brasil isso é ligeiramente fácil: corrupção, populismo, violência… Mas não sejamos tão catastróficos assim (quem está picando a mula para Portugal que vá mesmo!).

Os gestores precisam pensar fora da caixa (ecs, que chavão tão mastigado quando o gerúndio), usar Design Thinking, adotar Scrum, e blá-blá-blá para proporcionar à empresa vantagens competitivas oriundas de inovações.

Então o que desejamos é alguém conservador e, ao mesmo tempo, revolucionário, vanguardista.

Ah, tá…

Se correr o bicho pega, se…

Isso até pode ser possí­vel nas corporações onde a área de TI é quase uma outra corporação: 200, 300, 500 funcionários atuantes no departamento de tecnologia.


Porém… Nas menores, aí­ o bicho pega.

O sujeito mal consegue manter o que tem e ainda precisa arriscar o pescoço em novidades?

Se dedicar seu tempo na garantia da estabilidade (e com o tempo esgoelado que dispõe, só vai fazer isso mesmo) chamá-lo-ão de resistente às mudanças, ao progresso e tudo quanto é termo pejorativo. Todas estas afrontas pelo fato de ser prudente.

Se doutra forma, age como um porra louca e produz erros (natural, para inovar não se escapa disso), perde o emprego. Ou é enxovalhado por seus pares, gerentes de outras áreas, que o acusam de desperdiçar o orçamento com ideias malucas.

Hahaha, justo eles que andam de Uber e utilizam o AirBnb para se hospedar por aí­.

Como encontrar um sujeito assim? Não dá!

Se você trabalha em uma corporação, tem um diretor de TI para “XXX”, outro para “YYY” e assim por diante que se dedicam cada um a ler, aprender, investigar, visitar, experimentar, etc.

Mas numa média? Ou pequena (resolve essa, Sebrae!)?

Independente do tempo disponí­vel, ainda existem as idiossincrasias humanas.

Um sujeito é mais voltado para fazer o que sempre funcionou (ótimo, este tem um lugar na corporação), outro é um visionário (o famoso viaja-na-maionese, mas com grande utilidade para romper com o passado e ainda o calculista). Mais sobre isso leia no blog sobre Mintzberg e seu triângulo de comportamentos de gestores.

Fim de papo! O que não tem solução, solucionado está!

Mas pra acabar com o lenga-lenga, esqueça tudo isso.

O Leandro Laporta, gerente de Pré-Vendas da Orange Business Services, já resolveu a charada.

Profetizou o fim do esquema bimodal no artigo “Será o fim da linha para a TI bimodal?” publicado no portal da TI Inside.

(Ou foi irônico o suficiente com esse ponto de interrogação pra engrolar meu raciocí­nio.

Pena que…

Ele associou a parte da inovação com usar a nuvem.

E isso é avaliar a galáxia por uma estrelinha miúda no cantinho da mesma.

Acho que a tecnologia com inovação está mais pra carro autônomo, blockchain e outras coisas do tipo “— Por que nunca pensamos nisso antes?” do que levar pra nuvem.

E claro, TI disruptiva aqui vale até para algo que use pouca tecnologia, mas seja uma aplicação diferente que nunca alguém pensou ridiculamente antes, como explicou meu amigo Mansur ao comentar sobre o piá de 12 anos nos EUA que proveu máquinas de vendas de band-aid e curativos nos ginásios esportivos. As mães precisavam chegar em casa pra tratar o filhote que se ralou, ou para em uma farmácia. Agora já tem tudo ali onde o guri cortou o joelho.

A solução

Aqui vai uma solução cachorra. Ninguém disse que você precisa ser elegante sempre.

Na dúvida, nas pequenas e médias empresas, seja conservador.

E depois roube uma ideia pronta e a aplique.

Salvo se você, gestor de TI, conseguir ser promovido para outra função, livrando-se do abacaxi do dia a dia e ficar livre para permanecer debaixo da árvore tendo insights (ser irmão ou filho do dono da empresa também ajuda nisso).

Aliás, que seja uma árvore de uma universidade, pois lá tudo brota de novo na cabeça da gurizada que não tem unzinho entrincheiramento de ideias, o famoso Einstellung (leia mais aqui).

Ah, sim!

Lembre-se de mandar seus profissionais para os meus cursos de suporte técnico.

Talvez eles possam processar o estável com mais confiabilidade e liberar você para meditar duas manhãs debaixo da árvore.

www.4hd.com.br/calendario

Think about.

See you.

EL CO

2 comentários em “À cata de um gerente de ti partido ao meio”

  1. Excelente artigo! Agora, realmente, esse tal de Laporta de longe matou alguma coisa (talvez o bom senso). Nuvem é só infra-estrutura, cara! Que visão limitada!
    Só discordo que pequenas empresas devam ser conservadoras. Acho que devem ser ágeis e flexíveis, pra que possam se adaptar mais facilmente a mudanças de mercado e ao crescimento da empresa. Uma pegada mais Lean mesmo, com possibilidade de pivotar sem muitas amarras.

    Até!

  2. Salve, Steve!

    Bem, o comportamento do gestor de TI (o artigo era sobre eles), depende muito de sua personalidade.

    Mas até mesmo para ser LEAN ele precisará inovar, caso a empresa seja muito afeita a cacarecos e comportamentos organizacionais que não dispensem trabalhos redobrados (por segurança, dirão, hehe).

    Abração e obrigado pelo comentário.

    EL CO

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