Copie o “jeito de ser” do guru da moda e depois… Chore as pitangas!
Diariamente leio meus alertas do Google para saber as novidades sobre alguns temas. E uma delas surgiu com o curioso título:
The Narrative Fallacy: Why You Shouldn’t Copy Steve Jobs
Escrito pelo Sean Blanda no site 99u (o padrão do nome do site é quase igual ao do meu pessoal, 22c), o autor se apoia num conceito exposto por Nassif Taleb (que escreveu o livro A lógica do Cisne Negro, ótima leitura para um gestor) para explicar a mancada que é adotar o método de trabalho e o jeito de ser dos outros.
Obviamente todos buscam um estilo certo para ter sucesso. E nada mais natural do que examinar (ou copiar) quem já chegou lá. Como a bola da vez é o falecido Steve Jobs (não escreva o nome dele no Google, senão facebook, buscapé, mercado livre, etc. vão lhe abarrotar de publicidade relacionada), os empresários que leram algo sobre ele querem ser, entre outras coisas…
Minimalistas (o sujeito que tem como princípio reduzir ao mínimo o emprego de elementos ou recursos)!
Quem teve acesso à biografia do Steve Jobs deve recordar a descrição da mobília de sua casa. Segue uma foto para quem esqueceu:
Não preciso dizer que depois da foto e da grande popularidade alcançada pelo ícone dos adoradores de maçãs, arquitetos faturaram uma barbaridade “criando” (e cobrando caro) por casas assim, hahaha.
“Por que dá muito mais trabalho projetar algo vazio do que algo cheio, é uma tarefa de intenso raciocínio intelectual projetar apenas o essencial.” (2 x hahahaha).
As caminhadas de Jobs no seu bairro também são célebres e muita gente hoje faz reunião caminhando com seus fornecedores (claro, só os mais loucos; mas fazem). Ou na sua versão amena, em pé! Nem citarei as outras manias como andar de pés descalços, etc.
Bem, chovem exemplos e literatura sobre “As 5 maneiras que Warren Buffett usa para investir”, “O X da questão” de Eike Batista (deve estar na lixeira de muita gente agora), “Liderança segundo Barak Obama” (ou segundo Abraham Lincoln ou John Kennedy ou…), “As 48 leis do poder”, “A gestão segundo Bill Gates”, “O que o Google faria” e assim por diante.
“O hábito não faz o monge”, dizia o zelador do prédio onde eu morava.
Falácia narrativa
Blanda (o autor do artigo) cita o Nassim Taleb que explica como coisas inesperadas (cisnes negros) acontecem e ninguém as previu. Mas depois que se realizam, muitos tem uma boa explicação para isso, em especial se vão de encontro ao seus pontos de vista. Ele chama tal situação de falácia narrativa: nossa capacidade de narrar algo que é falso, simulando uma verdade (“Lógico que só poderia acontecer isso, por que A, B, C” e assim por diante). Mas antes ninguém esperava.
De tal maneira que se as pessoas descobrem que se um empresário bem sucedido como o Mark Zuckerberg tira um ronquinho às 14:00, feito! Vamos espalhar redes de dormir, colchonetes, etc. pela empresa para revigorar as energias da turma, blá-blá-blá.
É aquilo: quando na cabeça da gente se instalou certo conceito, quanto mais informações tivermos, mais justificativas temos para nossas perspectivas (quantas empresas colocando mesa de snooker e ping-pong na empresa por que o Google também tem; sem falar na moda dos ambiente abertos que são uma GIGANTESCA desgraça para a concentração no trabalho, assunto que discutirei noutro artigo).
Escreve Taleb no livro:
O cemitério de fracassados estará repleto de pessoas que compartilhavam das mesmas características: coragem, otimismo, corriam riscos, etc. Justamente como a população de milionários. Pode haver algumas diferenças em habilidades, mas o que de fato separa os dois grupos é principalmente um único fator: sorte. Pura sorte.
[…]
Como não se considera o cemitério de investidores falidos, você pensará que esse é um bom negócio e que alguns operadores (de fundos) são consideravelmente melhores que outros. É claro que uma explicação para o sucesso dos sobreviventes afortunados será apresentada prontamente: “Ele come tofu”, “Ela trabalha até tarde; outro dia mesmo liguei para escritório dela às oito da noite…”. Ou é claro, “Ela é naturalmente preguiçosa. Pessoas com esse tipo de preguiça podem ver as coisas claramente”.
As “chaves para o sucesso” criam uma cultura e uma mitologia ao redor de um determinado comportamento que provavelmente pouco tem a ver com o sucesso que ele alcançou. É uma redução da realidade para alguns poucos passos de sucesso que “podem” (?) ser reutilizados por todos. Catástrofe!
O aspecto principal da obra de Taleb é o ceticismo (by Houaiss: doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real).
Ou seja, desconfiar.
E falando nisso, veja dois livros que criticam os gurus da administração (e os consultores que se utilizam de uma ou outra tendência gerencial):
Encerrando com Deux Machina
Antes de tudo, recomendo que você volte ao início desse post e acesse o artigo que assinalei. Leia-o com paciência e abandone manias copiadas (e nem mencionarei que desperto cotidianamente às 06:00 para fazer ginástica e que das 07:45 até 09:00 tomo chimarrão, senão vou inflacionar o preço do mate!).
É o que digo sempre aos meus cursos aos alunos:
“Não sou dono da verdade. Não existem coisas certas ou erradas. Existem aquelas que funcionam ou não no seu ambiente!”
Aliás, falando em cursos, em março teremos uma nova edição, tanto em São Paulo quanto em Porto Alegre, do único curso nacional com 4 dias inteiros para gestores de Help Desk, Service Desk e suporte técnico:
Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk
Eu espero você lá para discutirmos os temas relacionados à gestão de suporte técnico (e também dos meus artigos).
Que encerramento de artigo mais mercantilista, haha. Mas como vou pagar as horas que dedico para escrever esses artigos? Minha chefia me mata se não apresentar um ROI (Return Of Investment) para esse devotamento.
😉
Abs
EL Cohen
PS: Usei um encerramento de artigo à lá deux machina que era uma cachorrada adotada pelos dramaturgos gregos para encerrarem uma peça de teatro na marra, já que o autor não sabia como terminá-la.