Algo que os novos líderes não sabem. Nem os velhos.
Hoje em dia todo mundo quer ser um líder.
Ser gerente ficou no passado (o sonho do meu sogro era ser “gerente da camisaria” onde trabalhava). Até por que um líder consegue insuflar motivação suficiente na equipe para ela criar asas (parodiando um tanto o slogan da Red Bull, a qual parece estar precisando jogar bastante do seu produto no tanque de combustível da sua equipe de Fórmula 1 para ver se algo de bom acontece por lá).
Anyway, esquecendo o assunto liderança, um dos hábitos mais comuns e imediatos do mercado é premiar os funcionários com grana quando conseguem fazer mais. É uma boa, mas estreita visão. Por que existe um monte de outras formas de “botar uma pilha” na gurizada.
Mas dinheiro sempre é o primeiro pensamento que vem à cabeça dos gerentes para empolgar a galera. O dinheiro como recompensa pode ser ele nu e cru como também pode estar na forma de mochilas, viagens com acompanhante, mas continuará sendo resultado da mesma coisa: mais dinheiro.
Apenas a título de curiosidade, existem várias outras formas que motivam seus funcionários:
- Orgulho (de ter feito isso funcionar; de ser o “cara” que fez aquilo; de ter participado da equipe que…”).
- Reputação (o sujeito tornou-se “o DBA da empresa” e se esforça cada vez mais para manter essa imagem).
- Senso de objetivo (São os caras que alcançam metas de maneira tenaz, não tendo nem facebook para não atrapalhar seu foco e se regozijam com a meta em si).
- Significado (fazer algo pelo simples motivo de ser algo que importa e expressa algum valor para a pessoa, podendo ser desde “eu ajudei o mundo a ficar melhor” até “eu sei que essa mudança vai ajudar em muito a empresa nas próximas…”)
- Camaradagem (É o cara bacana com quem todo mundo pode contar; então ele se sente motivado a continuar ajudando, independente dos benefícios secundários que possam surgir disso…).
- Grana (bom, disso já escrevi).
O efeito astonished vai lhe pegar agora
O palavrão acima significa, em inglês, atônito. Tomar-se de assombro ou espanto.
Prepare-se.
Afunde-se na cadeira e firme bem nos braços dela.
Por quê?
Alguém mais motivado não significa que conseguirá maior desempenho.
Explico.
Vou lhe dar R$ 10.000 de premiação se conseguir concluir esse projeto na metade do tempo. Supondo que só dependa do seu desempenho intelectual para concluir o projeto, você esquece as distrações (desliga o smartphone, coloca o ramal em indisponível, troca de turno, etc. para obter concentração máxima).
E consegue melhorar seu desempenho.
Depois de algum tempo eu chego para você e digo: “- Vou lhe dar R$ 100.000 para concluir em 1/3 do tempo”. Uau, com esse bônus adicional, vou me esforçar ainda mais (“Consigo comprar o iPhone 4, consigo mudar de casa, consigo isso, aquilo, etc.).
Bem, meu chapa, quero lhe dizer uma coisa não muito legal: você não só não vai melhorar seu desempenho, como VAI PIORAR.
A Curva Yerkes-Dodson
Tudo isso é resultado de um conceito conhecido na psicologia (resultado de testes empíricos, ou seja, testados e não apenas elocubrados) como Yerkes-Dodson Curve.
Se a tarefa for mecânica (carregar caixas ou outras atividades físicas sem influência de qualquer tipo de raciocínio), você consegue ir aumentando o desempenho do sujeito.
Mas se a tarefa for cognitiva (exige raciocínio, aplicação, etc.), daí chega uma hora que o sujeito se dá mal.
O curioso é que nossa intuição (e educação) imagina que aumentar a motivação (independente de qual tipo de motivação for, conforme listinha acima) o funcionário irá produzir mais. Só que essa inferência sempre é baseada em tarefas mecânicas, não nas cognitivas.
Para evitar parecer que estou a criar conceitos, dê uma lida – com calma – nos artigos:
- Effort for Payment – A Tale of Two Markets
- What’s the Value of a Big Bonus
- Why pay for performance may be incompatible with quality improvement.
Claro, se você quiser ficar no mundinho do ITIL, COBIT, Six Sigma, etc., volte aos livros e slides da internet. Mas se quiser entender as pessoas e tirar o máximo delas, leia os artigos. Invista seu tempo.
Se for mais esperto ainda, economize seu tempo e se inscreva em uma das edições do meu curso Gestão de Serviços para Help Desk e Service Desk que acontecem no final de julho em São Paulo e Belo Horizonte e então iremos conversar mais sobre o assunto.
Abrazon
EL Cohen (Nesta Copa do Mundo, dividido entre torcer para os vizinhos Brazil, Uruguay e Argentina)
PS: Os conceitos acima vêm sendo explorados como novidades em livros como Motivação 3.0, etc. Daí que vale a pena, se tiver dificuldades com o inglês, recorrer aos mesmos!
Excelente artigo, Cohen.
Desempenho e motivação são coisas complicadas, dada a heterogeneidade das aspirações e comportamentos humanos. Diante da dificuldade e até da impossibilidade de conhecer e trabalhar os motivadores individuais de cada membro da equipe, a Lei de Pareto parece apontar a recompensa financeira como solução mais abrangente.
Não tem nada de errado nisso, desde que os gestores entendam que isso é como jogar palha no fogo: dá uma labareda alta, mas efêmera.
Mas não adianta conhecermos a hierarquia das necessidades de Maslow se não tivermos como usar esse conhecimento na gestão de pessoas de forma individualizada, especialmente quando se trata de equipes grandes.
Existe um software para análise de comportamento e motivação de pessoal?
Abraço.
P.S.: Ainda sobre motivação,estava lendo uma reportagem que achei muito interessante e ligada ao tema: perÃodo sabático.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2013/05/periodo-sabatico-e-uma-opcao-para-quem-quer-se-descobrir-4141304.html