Conceitos do pai da psicologia positiva
Sei que, ao lerem o título do artigo, começarão a pensar que é coisa de gaúcho, hehe.
Desde os tempos do programa humorístico Casseta e Planeta que tal estereótipo nos acompanha.
Porém, se consideramos que a origem desse bafafá todo surgiu no século XIX por que a população de Pelotas/RS era rica (devido à produção de charque para alimentar os escravos nas Minas Gerais) e conseguia enviar seus filhos para a França, metrópole cultural da época, donde voltavam com babados e perucas, até que não é mal.
Acabou virando resultado da inveja da chinelagem por não ter dinheiro e também da gauchada mais rude que considerava estranho aquele uso de perucas e babados nas mangas de camisas nos filhos dos patrões (que raramente pegavam no pesado).
Outros podem pensar que se trata de algo mais relacionado à autoajuda. Não é.
Eu sou craque, li – na minha juventude – tudo sobre o assunto. Quase sempre, são lugares-comuns ou livros escritos por gente otimista (demais).
Do contexto
Ricardo Mansur (na foto ao lado, explicando questões de inovação durante o curso de Gestão de Suporte Técnico para Empresas de Tecnologia ministrado por esse que vos escreve) havia me advertido em 2012 que esse ano de 2013 seria um período sem pila. Sem grana.
Normalmente, quando isso acontece, a economia encolhe por que tem menos dinheiro circulando no mercado. Com isso há retração, mais desemprego, menos vendas, blá blá blá. E as pessoas tendem a ver tudo com olhos pessimistas.
Vou até mais longe, baseado no arcabouço teórico e prático de minha esposa que é psicóloga clínica: tem gente que pertence a uma família doentia (todo mundo pra baixo, pois é estando na pior que alguns ganham a atenção dos outros) e com isso o sujeito não se permite sentir alegria, pois como pode estar feliz com o resto da família numa pior? Afora pais e mães (tem acontecido isso aos montes em São Paulo) matando a família inteira por estarem na pior.
E é nessa atmosfera de “desgraças e mazelas” que desejo lembrar do psicólogo norte-americano Martin Seligman e sua nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar.
Numa obra relativamente nova – Florescer é de 2011 – de um sujeito que é Ph. D (significa estudado) e ex-presidente da Associação de Psicologia Norte-americana (mais detalhes aqui), aponta que o principal viés é que as pessoas dão muito enfoque para as coisas ruins e esquecem as boas que acontecem.
Dalguns fragmentos do livro
- Tales achava que tudo era água. Aristóteles achava que toda ação humana visava encontrar a felicidade. Nietzsche achava que toda ação humana visava obter poder. Freud achava que toda ação humana pretendia evitar a ansiedade. Todos estes gigantes cometeram o grande equívoco do monismo, pelo qual todas as motivações humanas se resumem a apenas uma.
- Eu achava que o tema da psicologia positiva era a felicidade, que o principal critério para a mensuração da felicidade era a satisfação com a vida e que o objetivo da psicologia positiva era aumentar essa satisfação com a vida. Hoje penso que o tema principal da psicologia positiva é o bem-estar, que o principal critério para a mensuração do bem-estar é o florescimento e que o objetivo da psicologia positiva é aumentar esse florescimento.
- Uma visão da felicidade a partir do humor condena à infelicidade os 50 por cento da população do mundo que têm “baixo estado de ânimo positivo”. Embora lhes falte alegria, esta metade da população mundial com estado de ânimo em baixa tem mais engajamento e sentido na vida do que as pessoas alegres.
- Encontre uma coisa totalmente inesperada para fazer amanhã e faça. Observe o que acontece com o seu humor.
- A maior parte das psicoterapias e remédios são apenas cosméticos, aliviando os sintomas por curto período de tempo, seguido de um frustrante retorno ao ponto de partida.
- Adaptamos-nos rapidamente ao ganho inesperado, à promoção no emprego ou ao casamento, argumentam os teóricos, e logo queremos trocar estes prazeres por outros maiores, para cultivar nossa felicidade que está despencando. Se tivermos êxito nessa troca, permaneceremos nessa esteira hedonista, mas sempre precisaremos de outra dose.
- Nós pensamos demais nas coisas que dão erradas e não o suficiente nas que dão certo em nossas vidas. Esse foco nos acontecimentos negativos nos predispõe à ansiedade e à depressão.
- Toda noite, escreva três ou quatro coisas que deram certo hoje e por que deram certo (eu tenho um caderninho desde 2012 com isso).
- Olhe, a verdade é que em muitos dias – por mais bem-sucedidos que sejamos na terapia – você vai acordar se sentindo triste e achando que a vida não tem esperança. O que você tem a fazer é não apenas lutar contra estes sentimentos, mas também viver heroicamente: funcionar bem mesmo quando está muito triste.
- Eu me dei conta de que de fato tinha sido um rabugento por cinquenta anos, que a educação dos meus filhos se baseava apenas em corrigir fraquezas em vez de produzir forças pessoais, e que a psicologia – a profissão que eu tinha escolhido para seguir – baseava-se exclusivamente em remover as condições debilitantes em vez de criar as condições propícias para as pessoas florescerem.
- Com muita frequência as escolas enfatizam o pensamento crítico e o seguimento de regras em vez do pensamento criativo e da aprendizagem de coisas novas (dá-lhe seguir o que diz o ITIL, o COBIT, etc.).
- As emoções não resultam inexoravelmente dos acontecimentos externos, mas daquilo que a pessoa pensa sobre esses acontecimentos, e é possível, efetivamente, mudar o que pensa.
- Quanto mais componentes de uma tarefa você tiver automatizado, mais tempo terá para o trabalho pesado (MEFOS?).
- O conselho a seguir é direto: se você quiser se tornar excelente em alguma coisa, deve dedicar sessenta horas por semana a isso durante dez anos.
Hahaha, parei na página 141. São mais de 360 delas.
Eu não estou fazendo apologia ao otimismo ou qualquer outro tipo de sentimento semelhante. As desgraças acontecem. E estão aí. A questão é como reagimos a elas. É inegável que muitas coisas nos abatem. Tiram o tesão, digamos assim. É um chefe que diz não a um projeto que dedicamos muito tempo, um cliente que não compra nosso produto, um esposo que não quer viajar com a gente de férias para aquele lugar super legal.
Recomendo a leitura do livro de Seligman.
Sua vida vai melhorar. Tome nota.
Smack
EL Cohen
Muito bom este texto.
Lembro que no FISL deste ano, a palestrante Dionara Jung de Oliveira Conrad falou que a sociedade cria pessoas medianas. Um exemplo é se o filho de alguém tira notas baixas em português mas vai bem em matemática, os pais contratam aula de reforço em português, quando poderiam explorar o potencial matemático dele dando aulas além do básico.
E é mesmo um fato que desgraças acontecem. A questão (ou resposta) é como reagimos a elas. Mesmo as coisas que nos abatem hoje, podem ser oportunidades de melhorias futuras.