Nem todo funcionário quer decidir

Quando a questão é liderança, nem tudo que funciona pra você, funciona pra mim, por que as pessoas são diferentes!

Ontem chegou um newsletter de entidade coirmã. Um bom apanhado sobre questões de liderança e “como desafiar sua equipe a encontrar soluções”.

Trechinho da recomendação de liderança:

William Edward Deming, reconhecido pela melhoria dos processos produtivos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou certa vez que a tarefa do lí­der é afastar o medo da organização, de modo que os funcionários sejam encorajados a tomar decisões de maneira autônoma.

A questão é: será que todos os funcionários desejam tomar decisões?

Um dos grandes problemas atuais da nossa comunidade é gente comendo sem mastigar primeiro. Trata-se de uma analogia para um sem-fim de  implementações baseadas em ITIL aqui no Brasil.

comentei esses dias o estupendo sucesso da palestra da Ana Lúcia Martins e Paula Canavesi.

Com o tí­tulo “Mitos e verdades do ITIL V2 e V3” as meninas questionaram os textos da cartilha. Arriscaram avaliar se algumas coisas funcionariam em seu ambiente. O ITIL, espertamente, já afirma que “adote e adapte” é sua recomendação.

Mas pouca gente se arrisca ao adapte…  por que isso exigiria pensar. E não se tem tempo para isso. “Tenho urgência. O projeto já está em andamento. O chefe mandou até o final do mês que vem.” Essas coisas.

E a liderança?

Agora eu retomo o assunto pegando o gancho do newsletter.

Charles Handy (já viram né? Fui a Sampa e comprei todas as suas obras) é reconhecidamente o Peter Drucker da Europa. E ele registra na página 23 do livro Deuses da Administração o seguinte:

Organizações com uma longa história de contí­nuo sucesso com um produto, serviço ou tradição podem também ser perdoadas por pensar que as coisas continuarão como antes. E, se é assim, quanto mais você racionalizar, codificar e padronizar, mais eficiente será. Se você tiver o mesmo conjunto de cardápios para o desjejum, almoço e jantar todos os dias, a operação de suprimentos para a sua casa será muití­ssimo simplificada, os custos de mão de obra e materiais serão reduzidos  e a energia administrativa requerida será mí­nima. Pode ser enfadonho, mas onde o alimento não é um prazer, apenas o necessário combustí­vel da vida, você encontrará o abastecimento de Apolo.

Leiam com atenção o último parágrafo: “Onde o alimento não é um prazer…“.

Quem já participou dos meus cursos de gestão de suporte sabe que a teoria DISC de motivação possui dois quadrantes denominados CAUTELA e ESTABILIDADE. As pessoas com esse perfil predominante, não desejam mudanças. Quanto mais serem forçados ou convidados a tomar decisões!

E as diferenças culturais?

A emblemática questão vai mais longe quando se percebe as culturas que envolvem as empresas. Eu não estou falando da cultura corporativa da empresa (o jeito como as coisas se criaram e funcionam até hoje), mas de onde ela está inserida.

Pegue os japoneses (exemplo clássico). Eles são coletivistas, não individualistas – se bem que as coisas vêm mudando com o tempo. Por isso as decisões são em grupo. O que significa que o lí­der pode estimular a pessoal individualmente, mas no final das contas é grupo que decide. Leia um exemplo do Handy abaixo:

A sala de montagem japonesa

William Ouchi descreve a experiência de uma firma norte-americana de eletrônica que abriu uma fábrica no Japão. Na área de montagem final da fábrica, jovens japonesas interligavam componentes de produtos eletrônicos trabalhando num sistema de salário-tarefa: quanto mais componentes interligados, mais você recebe.

Cerca de dois meses depois da inauguração, as chefes de seção abordaram o gerente da fábrica. “Honorável gerente da fábrica”, elas disseram curvando-se humildemente, “sentimo-nos embaraçadas por nosso atrevimento, mas precisamos falar com o senhor, porque todas as moças ameaçaram abandonar o trabalho nessa sexta-feira”. “Por que”, elas queriam saber, “a nossa fábrica não pode ter o mesmo sistema de remuneração das outras companhias japonesas?

Quando o senhor contrata uma moça nova, seu salário inicial deve ser determinado pela sua idade. Uma garota de 18 anos deve ganhar mais do que uma de dezesseis. A cada ano, no dia do seu aniversário, ela deve receber um aumento automático de pagamento.

A ideia de que qualquer uma de nós pode ser mais produtiva do que as outras é errada, porque nenhuma de nós da montagem final pode fazer nada a não ser que antes todas as outras pessoas da fábrica tenham feito direito o seu trabalho.

Destaca uma pessoa por ser mais produtiva é errado, e é também pessoalmente humilhante para nós.”

Yeah, o lugar onde Deming “colou” foi justamente no Japão, hehehe. Mas mude seu enfoque lendo novamente o tí­tulo desse artigo.

Nos Estados Unidos

Lá neste paí­s vigoram caracterí­sticas como “autonomia e iniciativa”, “tendência à ação”, “produtividade através das pessoas” e “fórmula simples, pessoal enxuto”.

OK, você pode afirmar que somos mais parecidos com os norte-americanos do que com os japoneses. Será?

Lembre-se que a religião predominante no Brasil é a católica. Nos EUA, a luterana.

Esta última afirma que não há problema em ganhar dinheiro, ser rico etc. se tudo for ganho de forma honesta. Já na católica, existe certo  espí­rito franciscano permeado de culpa. E isso que anoto apenas superficialmente tais diferenças. Por que as implicações APENAS da religião entranham-se na personalidade do povo norte-americano.

E?

E o que Jack Welch fez na GE pode não ser o mesmo estilo de liderança “servidor” como está em moda. Durante um tempo Jack foi conhecido como “Jack Neutron” por que explodia prédios, ficando intactas apenas as instalações. Vazias de pessoas.

Acho que estou sendo relativamente prolixo. Talvez se o artigo fosse escrito daqui a duas semanas ficaria melhor. Mas eu perderia o timing do newsletter.

O que desejo transmitir é que você precisa PENSAR sobre tudo que chega até você. Inclusive os artigos desse blog. Sair implementando as ideias pode tornar sua vida ainda mais desgraçada (hahaha, puta que pariu esse Cohen é exagerado mesmo). Mais complicações sem um tempinho de reflexões.

E falando em reflexões (agora vem o gancho nada subliminar e altamente merchandising), lembre-se que teremos cursos de gestão de suporte técnico nas seguintes datas e cidades neste ano de 2010:

Mais detalhes em www.4hd.com.br/calendario

See you, brothers and sisters.

Abrazon,

EL Cohen

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