Rompendo barreiras do condicionamento organizacional – continuação

Bem, continuando o artigo de ontem (Rompendo barreiras do condicionamento organizacional), eis a última parte da palestra do Pedro Mandelli.

O palestrante explanou que comportamento gira também em torno de motivação.

E que em certas empresas não há por que trabalhar a motivação dos funcionários. Isso não fará diferença no desempenho da empresa, ou nos resultados (money, of course) que os investidores percebem.

A empresa precisa apenas do “desempenho suficiente“.

Mostrou o exemplo de uma empresa mineiradora: ela tem contrato para exploração do solo por 300 anos. Explode o minério com dinamite, os caminhões recolhem os fragmentos e processam. Se o dólar baixa, vendem pouco e ganham muito. Se o dólar sobe, vendem muito e ganham muito.

Tudo gira em torno de “processos” e eles não são afetados pelo desempenho das pessoas. O máximo que pode melhorar no desempenho fihal é… melhorar a dinamite, o recolhimento via caminhões, a sirene que toca antes da explosão, etc.

Entretanto, o mesmo não vale para uma cadeia de lojas. Se o atendente tratar mal o comprador, talvez ele nunca mais ponha os pés na loja novamente.

Aqui debati e concordei com a psicóloga Aline Tonetto Rosa que também assistia ao evento.

Concluí­mos que o comportamento condicionado é suficiente para os atendentes de primeiro ní­vel. Quando menos “inventarem“, melhor para o Help Desk. E o ITIL até tem mostrado isso: não encontrou na base de conhecimento, direciona imediatamente para outro técnico.

Contudo, não serve para os supervisores. Eles são mais indicados para um desempenho livre, como veremos mais adiante.

A idéia é a seguinte:

  • Desempenho condicionado: faz as pessoas fazerem algo
  • Desempenho livre: faz as pessoas quererem fazer algo

Para migrar do desempenho condicionado para o livre alguns tópicos precisam estar estabelecidos na organização:

  • CONFIANÇA – Dispensar relatórios de visitas, não controlar cada passo, liberar para o funcionário celular (é um exemplo, não é regra), etc. Contudo, empresas desse tipo tem alta confiança e baixa complacência. Significa que errou, já era. Não tem segunda chance, nem passar a mão na cabeça desculpando o gesto inadequado. Abusou do celular com ligações pessoais, dançou.
  • RECONHECIMENTO – Dar um “pin” por que completou 10 anos é piada, segundo o Pedro. Tem que reconhecer, afirmar, explicitar ao funcionário que seu desempenho foi bom, gerar feedback.
  • HUMOR E CELEBRAÇÃO – Segundo o conferencista, o humor deveria ser critério de seleção. Se a pessoa é infeliz, não será no trabalho que encontrará a felicidade. A celebração envolve pegar os 300 melhores funcionários, por exemplo, e passar um final-de-semana num hotel legal. Sem eventos, palestras, nem nada. Só curtir os resultados atingidos.
  • ENVOLVIMENTO E COMPROMETIMENTO – A diretoria deve realmente circular pela empresa e ver o que acontece. Isso é melhor do que os jornais internos. É conversar direto com todo mundo e esclarecer dúvidas, etc.

Eu acho que é razoável manter os técnicos de primeiro ní­vel em um desempenho condicionado (mas gostaria de ler a sua opinião! Deixe um registro neste artigo). Existe uma rotatividade que é naturalmente alta e, salvo raras exceções, o salário é baixo e normalmente o posto serve apenas como trampolim para outras funções dentro da área de TI.

É o que é. Ainda que doa na gente – eu, técnico de Help Desk e Service Desk – é preciso encarar essa paisagem.

Por outro lado, dos supervisores é desejado um desempenho livre (minha opinião!!!). Querer fazer as coisas. Melhor do que correr atrás de cenouras e prêmios. E confiar que as pessoas vão alcançar isso é primordial. É fazer parte do time.

Essas são conclusões iniciais que tomei da palestra. Não são regra. Nem lei.

Também creio que depende do tipo de técnicos de primeiro ní­vel. Se é um time estável, como já observei num banco de varejo certa vez, também é possí­vel ir além das recompensas e prêmios (que será assunto de outro artigo aqui no blog).

Um outro assunto que monopolizou a platéia foi quando surgiu uma pergunta (ao final) questionando a sugestão de Pedro:

Um sujeito trabalha 10 horas na empresa. Gasta mais 2 estudando para se aperfeiçoar. Mais 4 no trânsito. Mais 6 dormindo. Quanto sobra pra sua vida pessoal? E o que fazer?

Pedro foi enfático: a vida é feita de opções. Tudo exige escolhas. Tudo exige sacrifí­cio. As pessoas acabam sofrendo mais por que não fazem escolhas.

Citou o caso de um amigo: a mulher queria que ele chegasse sempre em casa às 18:00. E o patrão queria que ele saí­sse somente às 21:00. Segundo o Pedro, é uma questão de “escolher o pé, por que a bunda é sempre sua.

Hehehe, perdão aos mais pudicos, mas a analogia é simplesmente precisa.

Abraços,

El Cohen

PS: O Pedro Mandelli é um excelente palestrante e comunicador. Se tiver oportunidade, assista-o. É até melhor que ir ao cinema 🙂

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